Por que o Dustin, de Stranger Things, não tem dentes?
Nos últimos meses o personagem Dustin, da série Stranger Things, ganhou destaque pelo seu talento e por outro motivo: ele não tem alguns dentes. O ator Gaten Matarazzo, de apenas 14 anos, realmente sofre com esse problema que chama displasia cleidocraniana, uma disfunção genética nos ossos que afeta principalmente a clavícula e a face.
Para entender melhor essa doença que tem um nome tão complicado, fomos procurar um especialista. Segundo Brunno Santos de Freitas Silva, doutor, mestre e especialista em Patologia Bucal pela FOUSP, esse problema é ocasionado por uma mutação no gene RUNK2. “Esse gene afetado é o responsável por orientar os processos de formação dos dentes e de ossificação”, diz o especialista.
Problemas na troca de dente
Ainda segundo o especialista, a pessoa que sofre com essa displasia costuma apresentar alterações no cronograma da troca de dentes. “Essas alterações vão desde retenção dos dentes de leite, quando eles permanecem mais tempo na boca do que o esperado, além do retardo ou completa falha de erupção (nascimento) dos dentes permanentes”, diz Brunno. Isso explica o sorriso do Dustin, não?
Essa demora no nascimento dos dentes permanentes pode acontecer por causa de deformações nas coroas e raízes dos dentes. “Outro fator importante para esse atraso é a presença de um estreitamento dos ossos maxilares, tornando pequeno o espaço para os dentes nascerem”, diz o dentista.
Vale a pena ressaltar que os portadores da displasia cleidocraniana podem apresentar também a formação de um grande número de dentes dentro dos ossos maxilares, o que poderia inviabilizar a sua erupção na boca por falta de espaço.
Há conserto!
Se não tratada, a ausência de dentes pode ser permanente, mas hoje em dia existem cirurgias que corrigem esse problema. Alias, Gaten já anda desfilando por aí com um sorriso cheio de dentes, e os jornais americanos afirmam que esse ano o ator fez sua primeira cirurgia para consertar o problema.
“Existe a possibilidade de remoção cirúrgica dos dentes com formato anormal e do tracionamento ortodôntico (por aparelhos) dos dentes com aspecto mais próximo a normalidade, e que podem assim serem puxados do osso para dentro da boca, servindo de apoio para próteses ou outras modalidades de reabilitação dos dentes. Os implantes dentários também podem ser considerados”, diz Brunno.
Apesar de não trazer consequências muita graves, esse tipo de cirurgia é importante pois, além de abalar a estética, essa ausência de dentes ainda pode prejudicar a fala, a mordida e até a respiração da criança. Mas o especialista ressalta que, por ser uma condição genética, a displasia não apresenta cura, apenas a amenização das suas consequências.
Dificuldades
E a vida de quem sobre com essa ausência dental não é fácil, não. “Esses pacientes apresentam as mesmas dificuldades para se alimentar que as pessoas que perdem seus dentes, e, por isso, a alimentação pode se restringir a alimentos mais macios”, diz Brunno.
No que se refere aos cuidados bucais é imprescindível um acompanhamento odontológico o mais cedo possível, pois muitas anormalidades de erupção dos dentes podem ser prevenidas ao longo da infância com um programa de extrações dentarias seriadas, dando espaço para o nascimento de dentes que tem condições de exercer sua função na boca.